RIO - Era para "Zii e zie" ter se despedido do público em agosto passado, em Helsinque, na Finlândia, onde Caetano Veloso fechou a sua turnê internacional. Mas, graças à insistência do filho Zeca, os cariocas ganharam uma última dose do show, hoje, no Vivo Rio - às 22h, com pista a preço popular, R$ 20 -, o local onde o repertório do CD homônimo começou a nascer, há dois anos e meio, durante a temporada "Obra em progresso".
- Zeca tinha assistido ao show de lançamento do disco, aqui no Rio, e gostado. Mas ele realmente se empolgou ao rever "Zii e zie", já no fim, em Portugal e na Finlândia, quando insistiu que eu deveria gravar um DVD - conta Caetano, no escritório de Paula Lavigne, mãe de Zeca e Tom e administradora com mão de ferro de sua carreira, explicando que concordou desde que o filho se mexesse para viabilizar o projeto.
"Querer que a imprensa seja mais pró-governo e não seja crítica do governo, isso sim seria golpismo. A pior coisa que há é a imprensa toda a favor do poder estabelecido"
O garoto foi à luta, também convenceu a mãe - patrocinadora da produção, que depois será lançada pela gravadora Universal e negociada para exibição na MTV ou no Multishow -, e agora acompanha passo a passo a gestação do projeto. Tanto Paula quanto Caetano asseguram que a recepção ao show foi muito mais calorosa fora do Brasil, lotando teatros na América do Sul e em diferentes países da Europa. Turbinados por essa resposta, Caetano e a Banda Cê - Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclados) e Marcelo Callado (bateria) - voltam para o registro em DVD, fechando um ciclo.
- Em disco, prefiro "Cê", mas, no palco, "Zii e zie" rendeu melhor, gosto do repertório, misturando as músicas do CD com canções antigas, tropicalistas, do período de Londres... - diz Caetano, adiantando também que pretende completar uma trilogia com o jovem grupo de formação roqueira que o acompanha desde 2006, quando "Cê" foi gravado e chegou às lojas. - Mas ainda não tenho ideia de como será esse disco. Como aconteceu com os dois CDs anteriores, deverei começar a fazer as músicas em Salvador, durante o verão. Já tenho uma vaga ideia do que quero. É para soar mais radicalmente ainda Banda Cê.
Agora, no entanto, cabeças e corações estão concentrados para a derradeira noite de "Zii e zie", cujo DVD terá direção geral do cenógrafo Hélio Eichbauer, com captação de imagem nas mãos de Fernando Young e de som a cargo do filho mais velho de Caetano, Moreno. Eichbauer não é diretor de DVD ou cinema, mas tem visão estética abrangente e rigorosa, casada à do cantor - com quem vem trabalhando desde a capa e o cenário do disco e do show "Estrangeiro" (1989) -, e reconfirmada na funcional e bela solução cênica para "Zii e zie": uma asa-delta em meio aos músicos na qual são projetados vídeos. Caetano promete não quebrar a sequência do roteiro - o que virou uma das piores pragas das gravações de DVDs - e, se necessário, só irá repetir canções após o bis:
- Não ensaiamos nada. A gente está com o show no ponto e faremos apenas um ensaio geral na véspera (ontem) que também será filmado. Mas acho que o que entrará no DVD será do show com o público.
Antes de seguir para as habituais férias de verão em Salvador, Caetano também continua trabalhando com Moreno nas bases de um disco de Gal Costa - apenas com suas composições, a maioria inédita - e ainda tem mais shows pela frente, mas em dupla com Maria Gadú. Apenas os dois e seus violões no palco, passando por algumas cidades brasileiras. Ele assistiu às primeiras apresentações da jovem revelação, no extinto Cinematheque, e adorou de cara.
"O fato de a eleição ter ido para o segundo turno já significa muito, e de ter sido a Marina que fez a maior diferença faz com que isso signifique algo ainda melhor"
"O fato de a eleição ter ido para o segundo turno já significa muito, e de ter sido a Marina que fez a maior diferença faz com que isso signifique algo ainda melhor"
- Parecia um moleque, mas com peito, e com aquela coisa de tocar sentada numa banqueta com as pernas cruzadas. Tinham me dito que eu iria conhecer uma nova Cássia Eller, mas, musicalmente, ela tem mais de Marisa Monte - diz Caetano, que já se apresentara com Gadú numa festa fechada, quando fizeram três músicas juntos, e depois na premiação do Multishow, no fim de agosto, quando cantaram "Rapte-me, camaleoa". - Volta e meia, pessoas me param na rua para dizer que assistiram na TV e gostaram.
Um papo com Caetano não é completo sem uma passada pela política. Ainda mais após ter mergulhado fundo na campanha de Marina Silva. Como a candidata do PV, lê os quase 20% de votação como uma vitória.
- Claro que meu balanço é positivo, fiquei feliz. O fato de a eleição ter ido para o segundo turno já significa muito, e de ter sido a Marina que fez a maior diferença faz com que isso signifique algo ainda melhor. Existe uma exigência de dignidade e verdade no eleitor brasileiro que se manifestou na campanha para a lei da Ficha Limpa - diz Caetano, que também aplaude o que considera uma "resposta muito madura do eleitorado" a declarações do presidente na reta final da campanha. - Lula falou que a imprensa é golpista, um partido político. Como assim? Se a Dilma se eleger, a imprensa terá contribuído enormemente para que isso tenha acontecido, com a presença ao gosto de Lula e no ritmo que ele comandou da imagem dela na imprensa brasileira. Há dois anos ou mais que vem acontecendo isso. O pessoal que dirige os jornais, os editores sabiam que aquela exposição de Dilma, apesar de discutida nos textos, era uma campanha que a imprensa não estava se negando a fazer. E querer que a imprensa seja mais pró-governo e não seja crítica do governo, isso sim seria golpismo. A pior coisa que há é a imprensa toda a favor do poder estabelecido. Mesmo que haja distorções, veículos que sejam grosseiros ou errados, é sempre melhor que a imprensa seja crítica do poder estabelecido do que uma mera caixa de ressonância para os aplausos ao governo.
Por Antônio Carlos Miguel
Por Antônio Carlos Miguel
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